domingo, 29 de março de 2015

Ida

    Uma coleção de belíssimas fotografias em preto e branco, que entristecem e encantam. Uma história de busca, descobertas, profundezas e solidão. Duas personagens femininas antitéticas percorrendo estradas polonesas. Uma protagonista de pouquíssimas falas. Um filme pleno de sentidos e imagens arrebatadoras.
    Anna é uma irmã da Igreja Católica residente de um convento na Polônia e prestes a fazer seus votos definitivos. Antes disso, ela é enviada pela direção do convento para conhecer sua única parente viva, uma tia chamada Wanda, de quem nada sabe. 
    Ao encontrá-la descobre que seu nome de batismo é Ida Lebenstein, que é judia e que a causa da morte de seus pais, bem como o local onde estão enterrados, são fatos desconhecidos, inclusive por sua tia. As duas partem em uma viagem pelo interior da Polônia, em direção à antiga moradia de seus antepassados para desvendar sua história em comum. 
    Filme merecidamente indicado ao Oscar de melhor fotografia, foi vencedor do mesmo prêmio na categoria melhor filme estrangeiro: uma obra diferente pairando na Academia, em meio à velocidade e aos sentimentos mastigados do cinema de Hollywood. Saí do cinema com vontade de ver o mundo em preto e branco, pra sentir um pouco mais de melancolia. Uma história que contextualiza a República Popular da Polônia dos anos 1960, vermelha, camarada e comunista, e que, ao mesmo tempo, evoca sutilmente as feridas abertas de uma dominação nazista dolorosamente próxima.
    O mais legal do filme: uma comovente e arrebatadora obra de arte que merece ser vista muitas vezes.

Trailer

Ficha técnica
Ida (2013)
Direção: Pawel Pawlikowski
Elenco: Agata Trzebuchowska, Agata Kulesza, Adam Szyszkowski, Dawid Ogrodnik.
Principais premiações: Filme Estrangeiro (Oscar e BAFTA)
Duração: 85 minutos.
    

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Boyhood - Da Infância à Juventude

    O mais óbvio argumento para convencer alguém a assistir esse filme é dizer que nunca antes houve um projeto igual na história do cinema (ao menos que eu ou o Google saibamos). Trata-se de um único filme que demorou doze anos para ser concluído, acompanhando assim o amadurecimento de seu elenco. Nem a série de filmes de Harry Potter, com oito produções, acompanhou tanto tempo na vida de seus jovens atores.
    O realizador desta obra audaciosa é Richard Linklater, diretor e roteirista de três dos meus filmes preferidos: Antes do Amanhecer, Antes do Pôr-do-Sol e Antes da Meia-Noite. Esta também é uma maravilhosa trilogia que abarca dezoito anos na vida de um casal, mas tratam-se de filmes lançados separadamente, e os atores são já adultos quando os conhecemos. A magia de Boyhood é ver duas crianças crescendo durante doze anos, tornando-se adolescentes e jovens, fazendo escolhas, tudo isso em um mesmo filme.
    Conhecemos Mason quando ele tem seis anos, vive com sua irmã Samantha e com sua mãe, Olivia, recebendo visitas esporádicas de seu pai. Através das diferentes fases pelas quais a família passa, eventos que poderiam acontecer com qualquer família da vida real, acompanhamos as relações entre os personagens principais, novos casamentos, amizades construídas e perdidas, mudanças de cidade, além de eventos históricos, como as eleições presidenciais, o lançamento de um novo livro de Harry Potter ou o surgimento de Lady Gaga. Tudo isso, por acontecer ao longo de tantos anos e mostrar o crescimento verdadeiro das duas crianças, além do envelhecimento dos pais, faz com que o filme transforme-se num registro incrível e único da passagem do tempo e do crescimento pelo qual todos nós passamos, mesmo que não estejamos preparados para ele. Um filme encantador e emocionante, que fala da vida e apenas isso.
    O mais legal do filme: a história provoca nostalgia, reflexão sobre a vida e uma enorme vontade de recordar nossa infância e adolescência. 


Ficha Técnica
Boyhood (2014)
Direção: Richard Linklater
Elenco: Ellar Coltrane, Patricia Arquette, Ethan Hawke, Lorelei Linklater.
Principais premiações: Melhor filme e melhor filme dramático (BAFTA e Globo de Ouro), melhor diretor (BAFTA e Globo de Ouro), melhor atriz coadjuvante para Patrícia Arquette (Oscar, BAFTA e Globo de Ouro)
Duração: 165 minutos
Curiosidade: a atriz que faz o papel de Samantha é filha única do diretor do filme. 


sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Seven - Os Sete Crimes Capitais (Seven)

    Depois de assistir a esse filme há alguns dias atrás, fiquei inconformada por ter demorado tanto para fazê-lo. Por isso, se você também ainda não o assistiu, não demore tanto quanto eu.
    O elenco já seria motivo suficiente para despertar o interesse: Morgan Freeman e Brad Pitt são os protagonistas desse suspense e formam uma daquelas duplas peculiares de policiais, um clássico no gênero suspense investigativo. Outro motivo para assistir o longa é o seu diretor, que também goza de boa reputação, David Fincher, que dirigiu, posteriormente, os ótimos "Clube da Luta" (1999), "O Curioso Caso de Benjamin Button" (2008) e "Millenium: Os Homens Que Não Amavam as Mulheres" (2010), entre outros.
    Além das credenciais técnicas, a história do filme é bastante interessante, e apresenta um caso de assassinato em série, gênero de crime que, particularmente, sempre me intriga. Perscrutar, analisar e descobrir os motivos que levam uma pessoa a cometer tal atrocidade é sempre um desafio aterrorizante, e essa possibilidade é explorada inteligentemente nesse filme.
    Aqui há uma lógica nos assassinatos: eles seguem os sete pecados capitais definidos pela Igreja Católica (Gula, Avareza, Preguiça, Luxúria, Orgulho, Inveja e Ira), atingindo pessoas metodicamente escolhidas. O personagem serial killer sociopata responsável pelos crimes é considerado como um dos grandes vilões do cinema e houve um suspense sobre o ator que o encarna antes da estreia do filme: seu nome não aparece nos créditos iniciais nem nos materiais de divulgação, inclusive trailers (e eu mantive o suspense e não inclui o nome do ator na Ficha Técnica abaixo).
    O mais legal do filme: o final. Deve-se estar preparado.

Trailer

Ficha Técnica
Seven (1995)
Direção: David Fincher
Elenco: Morgan Freeman, Brad Pitt, Gwyneth Paltrow
Duração: 130 minutos
 

domingo, 31 de agosto de 2014

A Culpa é das Estrelas (The Fault In Our Stars)

    "Só tem uma coisa pior nesse mundo que bater as botas aos dezesseis anos por causa de um câncer: ter um filho que bate as botas por causa de um câncer." Essa é uma das frases que Hazel Grace, personagem principal da história adaptada do livro best-seller de John Green, profere logo no início do filme, e uma das mais marcantes para mim. Simboliza bem dois dos pilares da história, quais sejam: a relação de Hazel com sua mãe, que tenta melhorar sua vida de todas as formas possíveis; e sua relação com a doença, um desgosto conformado.
    Hazel é uma adolescente de dezesseis anos, diagnosticada aos treze com câncer de tireoide. Seus pulmões afetados pela doença fazem com que ela tenha que carregar um cilindro de oxigênio para poder respirar. Em um grupo de apoio ela conhece Augustus waters, um ano mais velho do que ela, com rosto de galã e uma perna amputada em decorrência de um câncer nos ossos. Após certa relutância, Hazel passa a aprender com Augustus a lidar com sua doença com um pouco mais de humor e de esperança.
     Este é, sem dúvida, um romance adolescente, porém um pouco diverso dos demais. Um casal com uma perna a menos e duas cânulas no nariz a mais é, sem dúvida, um casal fora do modelo adolescente de Hollywood. Além disso, sabe-se que as coisas podem não dar certo no fim, não porque um dos dois vai ser infiel, querer ficar com outras pessoas ou ser alvo de um mal-entendido, mas sim porque a doença pode levá-los a óbito.
    O mais legal do filme: a mensagem passada para os adolescentes: nossas imperfeições e problemas não impedem o surgimento do amor.


Ficha Técnica
The Fault In Our Stars (2014)
Direção: Josh Boone
Elenco: Shailene Woodley, Ansel Elgort, Laura Dern, Willen Dafoe, Nat Wolff, Sam Trammel.
Duração: 125 minutos


A Ponte (The Bridge)

    
    A ponte Golden Gate é um dos cartões postais mais famosos dos Estados Unidos, uma construção já considerada como uma das sete maravilhas da engenharia no mundo, e um dos locais mais visitados no estado da Califórnia. Ela liga a metrópole de São Francisco à cidade de Sausalito, tem quase 70 metros de altura em relação ao mar e dois quilômetros de extensão em suspensão. Mas para além da beleza e das proporções espantosas, a ponte esconde um drama: é o segundo local mais escolhido no mundo para cometer suicídio.
    Ao longo do ano de 2004, a equipe do filme, através de câmeras instaladas em vários pontos diferentes, funcionando diariamente, registrou 23 suicídios, dos 24 que ocorreram naquele ano, além de diversas tentativas de suicídios não concretizadas. Além dessas imagens, que perturbam e emocionam, a equipe entrevistou familiares e amigos de algumas das pessoas que foram registradas em seus últimos momentos de vida, ajudando a contar suas histórias e a tentar entender os motivos pelos quais tomaram essa decisão.
    A mim foi impossível não sentir uma profunda tristeza, um sentimento de vazio perante à frágil racionalidade da vida, e até uma admiração por essas pessoas: elas sentiram algo que a maioria de nós jamais será capaz de sentir ou de compreender.
    O mais legal do filme: é um filme bonito sobre um assunto doloroso. O suicídio foi abordado de forma a não condenar ou culpar ninguém. As pessoas mostradas foram tratadas com respeito, assim como sua decisão. Uma das entrevistas, com os pais de um jovem que saltou da ponte, me tocou profundamente: eles compreenderam que, para o filho, saltar era libertar-se.
OBS: Há dois meses, foi aprovada pela autoridade responsável a construção de uma rede de proteção para evitar suicídios. Fiquei feliz com a notícia.

Trailer
Filme completo legendado
Site oficial

Ficha Técnica
The Bridge (2006)
Direção: Eric Steel
Inspirado no artigo "Jumpers", escrito por Ted Friend, publicado na revista The New Yorker em 2003.
Duração: 95 minutos

    

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

O Que Os Homens Falam (Una Pistola En Cada Mano)

    Estamos carecas de ouvir aqueles ditados dizendo "Todo homem pensa...", "Toda mulher sonha...", "Os homens são muito...", "As mulheres odeiam...", como se homens e mulheres fossem todos iguais apenas por terem determinado gênero. Um destes ditados diz que homens não sabem se expressar e que não falam sobre seus sentimentos com os amigos. Será verdade? Será que todos os homens são assim? E ainda, será que os homens querem ser vistos desta forma?
    Esta comédia espanhola, que só por ter o fantástico Ricardo Darín no elenco já vale a ida ao cinema, aborda sentimentos e fragilidades masculinos, e como os homens os expressam, com diálogos inteligentes e engraçadíssimos. Em situações inusitadas, os oito personagens quarentões desse filme ou falam demais, ou falam de menos.
     A obra é composta por várias histórias independentes, contadas em cenas que duram, em média, quinze minutos. Quinze minutos de diálogo e o tempo passa voando! Tanto os diálogos entre homens, quanto os diálogos com mulheres, demonstram que os homens muitas vezes não falam sobre seus problemas por vergonha ou por não terem sido acostumados a fazê-lo, e que outros têm buscado aprender a falar, motivados ou não por suas companheiras. As mulheres do filme, aliás, são a personificação da praticidade, característica geralmente associada ao estereótipo masculino. São elas que demonstram aos homens, perdidos em suas crises de meia-idade, que a vida só é complicada para quem a complica.
    O mais legal do filme: Há cenas realmente hilárias, mas se eu pudesse escolher uma pra assistir novamente, seria esta da foto que ilustra o post. É a melhor!


Ficha Técnica
Una Pistola En Cada Mano (2012)
Direção: Cesc Gay
Elenco: Ricardo Darín, Javier Cámara, Candela Peña, etc.
Duração: 95 minutos

quarta-feira, 9 de julho de 2014

10 Anos de Pura Amizade (10 Years)

    Um filme que se passa em apenas uma noite: já começo gostando! Trata-se de um reencontro de uma turma de Ensino Médio, dez anos após a formatura. Uma comissão cria a festa e convida a todos para a noite em que vão se reencontrar, conversar, apresentar suas famílias, relembrar histórias e exibir suas conquistas pessoais ou tentar esconder seus fracassos. Enquadra-se naquela categoria de filmes bacanas que mostram um grupo de amigos levando a vida com tropeços e acertos.
    Há seis histórias principais sendo contadas enquanto os ex-colegas vão se encontrando e demonstrando como passaram seus últimos anos. Casamentos iniciando e outros falindo, antigos namorados, conquista da fama, fracassos amorosos, perda da popularidade que havia na escola e mudanças radicais de personalidade são alguns dos assuntos trazidos à tona pelo filme, leve, divertido, e simultaneamente, com profundidade suficiente pra fazer quem assiste refletir sobre sua própria história escolar e a jornada traçada por si e por seus amigos após a formatura.
    Destaque para duas das histórias: uma delas mostra Reeves, um músico que alcançou a fama com a música "Never Had", e Elise, garota que lembrava-se dele vagamente, mas que teve grande importância em sua vida; a outra refere-se a Anna, garota muito popular na época da escola, que com a ajuda involuntária de Marty e AJ, consegue superar as mudanças fundamentais que ocorreram em sua vida.
    O mais legal do filme: o ator que interpreta o cantor Reeves, Oscar Isaac, é realmente músico e protagoniza, cantando, a cena mais bonita do filme. 


Ficha Técnica
10 Years (2011)
Direção: Jamie Linden
Elenco: Channing Tatum, Jenna Dewan, Rosario Dawson, Oscar Isaac, Kate Mara, Justin Long, Chris Pratt, etc.
Duração: 100 minutos 

sábado, 24 de maio de 2014

Histórias de Amor (Liberal Arts)

    Apaixonei-me perdidamente por este filme! Fui atraída para ele por causa do ator e diretor, Josh Radnor, protagonista da série "How I Met Your Mother", da qual eu gosto muito. Não tinha muitas pretensões, mas pelo trailer, parecia ser um filme leve e interessante. Minhas expectativas foram superadas ao ver tantas coisas que eu amo presentes no roteiro: Teatro, Música Clássica, os campi de universidades antigas, discussões sobre ideias e sentimentos e, principalmente, livros, todos em cenas entregues em uma bandeja reluzente ao público, cheias de beleza, sutileza e contemplação. 
    O título original do filme menciona um formato de ensino superior bastante presente na tradição educacional da América Anglo-Saxônica, os bacharelados em Artes Liberais, que seriam estudos mais filosóficos, voltados para o desenvolvimento da intelectualidade, da lógica, do conhecimento das humanidades e das artes; um estudo que se contrapõe aos cursos superiores focados na parte técnica ou mecânica da sociedade, que objetivam a preparação para produção de materiais utilitários para o cotidiano. Já o título em português deve referir-se às histórias de amor pelo ensino, pelas artes e pelo passado, pois amor romântico, naquele formato já conhecido dos filmes de romance, há pouco.
    Temos como protagonistas Jesse, um homem de 35 anos que graduou-se em Artes Liberais, viciado em Literatura, que sente muita saudade da vida na universidade; Zibby, uma jovem de 19 anos, que está no segundo ano de Teatro e História da Arte na mesma faculdade; e o próprio campus da Ohio University, cheio de gramados verdes e prédios antigos, que apresenta ainda mais três personagens que enriquecem a trama.
    O mais legal do filme: Jesse e Zibby trocam cartas, em pleno ano de 2012!


Ficha Técnica
Liberal Arts (2012)
Direção: Josh Radnor
Elenco: Josh Radnor, Elizabeth Olsen, Richard Jenkins, Allison Janney, John Magaro, Elizabeth Reaser, Zac Efron
Duração: 97 minutos